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sábado, 23 de julho de 2016

O discurso da fé: análise do discurso de lideranças de igrejas neopentecostais – Parte 2

aad1Leia também a Parte 1

Continuando a transcrição de trechos do trabalho de conclusão de curso de Pós-Graduação em Revisão de Texto, disponibilizo o capítulo 3. Boa leitura!

3 – Análise do discurso de lideranças neopentecostais para a tomada de poder na sociedade

Em análise do discurso, Charaudeau (2008, p. 63) nos ensina que o sujeito analisante deve dar conta dos possíveis interpretativos que surgem ou se destacam no encontro dos pontos de vista do sujeito comunicante e do sujeito interpretante. Os possíveis interpretativos são as “representações linguageiras das experiências dos indivíduos que pertencem […]”[1] a grupos específicos ou comunidades humanas. Assim, as igrejas neopentecostais possuem seus próprios possíveis interpretativos.
Se no capítulo anterior analisou-se o discurso neopentecostal direcionado aos membros e visando a manutenção da estrutura eclesiástica, este capítulo dedica-se à análise do discurso de lideranças neopentecostais visando a incursão no ambiente político.
aad1Malafaia – Pela primeira vez na história do nosso país, na história republicana, a terceira maior autoridade do país, o presidente da Câmara dos Deputados é um irmão nosso. Eu vou pedir para ele dar uma saudação: o deputado Eduardo Cunha.
Eduardo Cunha – Paz do Senhor, meus amados, Pastor Silas Malafaia. Deus me colocou lá. Eu sempre digo, Silas: se Deus me colocou lá, ele saberá sempre honrar o trabalho que ele fez. Todos conhecem o que eu penso, qual é minha posição e aquilo que a gente vai tentar sempre fazer valer. Muito obrigado, que Deus abençoe todos vocês porque, afinal de contas, o nosso povo merece respeito! (Pr. Silas Malafaia e Eduardo Cunha – YOUTUBE)
Este discurso foi proferido no palco da Marcha para Jesus no Rio de Janeiro (2015). Tal evento reuniu milhares de fiéis, atentos aos shows de música gospel e aos líderes eclesiásticos e políticos convidados[2].
O Pastor Silas Malafaia introduz o Deputado Federal Eduardo Cunha à plateia, enaltecendo o fato dele ser o Presidente da Câmara dos Deputados e um irmão de fé. Pela primeira vez, segundo Malafaia, um evangélico consegue alcançar tal cargo, algo que vem carimbar a doutrina de vitórias e de conquistas seguida pelas igrejas neopentecostais.
O Deputado Eduardo Cunha fala a seguir. Com voz macia e boa dicção, possivelmente aprendida durante seus tempos como locutor na Rádio Melodia FM[3], Cunha saúda os fiéis e declara: “Deus me colocou lá”, atestando que sua posição política ocorreu pela vontade divina e, por isso, sem direito a críticas. Afinal, se Deus o colocou na presidência da Câmara, não cabe a nenhum fiel contestar tal fato, mesmo face às maiores arbitrariedades (vide, no capítulo 2, que os líderes neopentecostais amaldiçoam a quem se volte contra um “ungido”, mesmo diante de ações criminosas).
De forma demagógica, Cunha afirma ser próximo dos eleitores. Afinal, todos o conheceriam e ao seu modo de pensar e agir. Porém, nos últimos tempos o Judiciário e as mídias têm trazido uma nova face de Eduardo Cunha: a de uma pessoa agressiva, ardilosa e corrupta[4].
Cunha termina seu discurso com o bordão de seu programa de rádio: “o nosso povo merece respeito”, sua marca registrada no Estado do Rio de Janeiro.
aad2Pela primeira vez, pela primeira vez, a Marcha pra Jesus pela primeira vez tem o apoio – tudo o que vocês estão vendo aqui – da Prefeitura do Rio de Janeiro. Eu vou chamar duas autoridades pra gente orar. Eles não vão aqui falar nada, nós é que vamos falar com Deus pela vida deles. Eu vou convidar duas autoridades, o prefeito da cidade Eduardo Paes e o senador Lindbergh Farias. E nós temos aqui vários deputados e nós vamos – quero convidar os deputados federais e estaduais Bráulio, Samuel, Felipe. Estenda a sua mão aqui, por favor, estenda a sua mão. Meu irmão, na hora de votar você vota em quem você quer. Na hora de orar – quem aqui é povo de Deus? – você tá vendo, prefeito, tá vendo, Lindbergh, o povo de Deus é educado, o povo de Deus respeita a autoridade. E eu queria que vocês estendessem as mãos por favor, estenda as mãos. Em nome de Jesus, amém! Deus dê misericórdia, obrigado pelo seu apoio, Deus abençoe. (Pr. Silas Malafaia, Eduardo Paes e Lindbergh Farias – YOUTUBE)
Na Marcha para Jesus no Rio de Janeiro (2012) vê-se o Pastor Silas Malafaia com outros políticos no palco principal. Desta vez, o Prefeito Eduardo Paes (que concorria à reeleição) e o Senador Lindbergh Farias, além de deputados estaduais e federais aliançados com o pastor neopentecostal.
Antes de apresentá-los, Malafaia esclarece a plateia de que os custos daquele evento tinham o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. Nesse caso, apoio significa também auxílio financeiro. Logo em seguida, Malafaia convida os dois políticos ao palco (um deles concorrendo à reeleição meses depois) sob a justificativa de que o público ali presente iria “orar” por eles.
Uma coisa a observar é que, no discurso evangélico, é raro o líder dizer claramente aos fiéis que devem votar no candidato X ou Y. A indução ocorre com outras palavras: “orar” pelo candidato que está no púlpito ou palco. Isso ocorre para tirar do discurso o peso de manipulação dos votos e será visto nos discursos a seguir. E, embora implícita, a mensagem é compreendida pelos fiéis, que costumam obedecer às instruções do “representante de Deus”.
Orlandi (2009, p. 82) lembra que, no decorrer dos discursos, há uma série de não-ditos que também possuem significado. Assim, embora não se solicite abertamente o voto, há um “não-dito” que o subentende.
Neste discurso não foi diferente. Malafaia diz que não dará a palavra aos políticos, na tentativa de desconstruir possíveis críticas. Apenas, de forma aparentemente cristã, “orará” por eles. O interessante é que só sobem ao púlpito os candidatos agradáveis aos líderes religiosos. Os demais não precisam de oração.
Além de “receber oração”, políticos sobem aos palcos e púlpitos evangélicos para, de forma subentendida, visualizar o rebanho. Do alto, em posição de destaque na congregação, é possível para o líder eclesiástico mostrar ao político a quantidade de “ovelhas” sob sua responsabilidade, muitas das quais acatarão suas instruções por medo de se negar a cumprir uma ordem vinda do próprio Deus.
aad3Narrador – Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, assinou a lei 729/2015, que institui o Dia da Marcha para Jesus, de autoria do deputado e pastor da Igreja Quadrangular Carlos César. Estiveram presentes no Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo, lideranças de diversas denominações como o Apóstolo Estevam Hernandes, Bispa Sônia Hernandes, Deputado Marcelo Aguiar, Deputado Celso Nascimento, Pastor Rinaldi Digilio, entre muitos outros. O Apóstolo Estevam Hernandes, líder da marcha no Brasil, falou da transformação da cidade de São Paulo através da Marcha pra Jesus.
Estevam Hernandes – Então eu creio que realmente é um diferencial nós podermos levar essa mensagem de vida, de paz e principalmente aquilo que a palavra fala, que é nós destronarmos principados e potestades. Assim como, durante todos esses vinte e três anos, nós observamos mudanças profundas no ambiente espiritual do Brasil, e eu creio que na França e em todos os países aonde a gente marcha pra Jesus isso efetivamente deva acontecer.
[…] Geraldo Alckmin – E com esta nova lei, o Dia da Marcha para Jesus vai para Corpus Christi, que é uma das maiores datas do cristianismo. E de outro lado, sendo feriado, facilita também para mais pessoas poderem ir para a marcha. Então isso vai fazer com que a marcha possa crescer ainda mais, com todos os seus bons frutos no nosso cotidiano, fortalecendo a família, trazendo a paz, trazendo bons valores e também o ponto de vista espiritual na vida de cada pessoa.
[…] Sônia Hernandes – A bancada evangélica se mobilizou. Hoje é um dia de muitas atividades aqui dentro da Assembleia, mas a bancada toda estava aqui. Glória a Deus, eu preciso falar isso para que você saiba que Jesus nos une. […] (Geraldo Alckmin, Apóstolo Estevam Hernandes e Bispa Sônia Hernandes – YOUTUBE)
Eis um dos motivos para o empenho das igrejas neopentecostais na eleição de políticos: que eles venham a agir em prol dos evangélicos e, principalmente, dos seus líderes. Ao instituir o feriado católico de Corpus Christi como Dia da Marcha para Jesus, o Governador Geraldo Alckmin fez um afago ao casal Hernandes (Igreja Renascer em Cristo), pois transferiu, pelo menos na capital, o feriado da Igreja Católica para os evangélicos.
O Apóstolo Estevam Hernandes, em seu discurso, destacou o aspecto espiritual e beligerante da existência da marcha. Marcha, em si, denota um tipo de andar próprio de combatentes. Aliado a isso, Hernandes remete à luta entre o bem e o mal, entre os evangélicos e os principados e potestades que dominariam a cidade. Para Hernandes, as batalhas têm sido vencidas pelos evangélicos através da marcha, uma vez que ele enxerga mudanças (de forma subentendida, para melhor) na cidade de São Paulo.
Já a Bispa Sônia Hernandes esclarece que as coisas de Deus são mais importantes do que qualquer outra coisa, entendendo como “coisa de Deus” qualquer assunto relativo ao mundo evangélico. Assim, embora havendo muitas outras atividades na Assembleia naquele dia, a chamada “bancada evangélica” preferiu se unir para a sanção de uma data comemorativa.

aad4[…] Gilberto Kassab – Boa noite a todas, a todos. Eu quero cumprimentar a cada um de vocês aqui presentes e o fato cumprimentando nosso querido Apóstolo Agenor Duque e a Bispa Ingrid. E dizer da alegria de estar aqui acompanhado do Deputado Jorge Tadeu e da nossa vereadora, uma companheira [inteligível]. E dizer pra vocês que a minha presença aqui nesta noite acompanhando, se Deus permitir, o nosso futuro prefeito José Serra, que tá chegando, é apenas pra trazer a vocês o nosso reconhecimento, nosso agradecimento da cidade de São Paulo a todas as ações aqui realizadas, principalmente no campo social, no campo da solidariedade, trazendo o abraço ao apóstolo, à bispa, trazendo o pedido que faço nesse momento de que vocês possam orar pelo prefeito, orar pela cidade. Pedi essas orações, apóstolo, porque é o caminho da certeza de que podemos ter uma cidade melhor, um Brasil melhor, com mais liberdade, com mais igualdade social, com mais justiça. […]
Agenor Duque – […] Eu quero te pedir uma coisa, agora é eu que tô falando, posso ou não posso? Você vai [inteligível] vinte pessoas da sua rua, da sua comunidade, da sua vila, daqui, de onde você conhece, e você vai dizer assim: “olha, a Sandra [Tadeu] já é vereadora e com fé em Deus ela vai se reeleger”. Fala um glória a Deus. Vamos fechar com a senhora essa aliança. Eu fiz uma pesquisa pela vida da Sandra e também do Jorge Tadeu, seu esposo, deputado federal, e a vida deles é limpa, pura e são servos de Deus. […]
José Serra – […] Eu queria aqui é combinar uma parceria. Eu sei que você [Agenor Duque] tem uma entidade, uma casa: Rei das Ruas, vocês tem uma obra social [inteligível] e eu queria propor essa parceria, e nós trabalharemos juntos. Agora, [inteligível] aqui não foi apenas conhecer e estar com vocês. Foi para fazer um pedido: que vocês orem por mim […]. Eu preciso de sua oração para dar mais forças a mim e à Sandra. Muito obrigado, a paz do Senhor. (Gilberto Kassab, José Serra e Apóstolo Agenor Duque – YOUTUBE)
Neste discurso, novamente vê-se a expressão “orar” pelo candidato, significando votar nele nas próximas eleições. O então Prefeito Gilberto Kassab se esforça para adotar o linguajar evangélico em seu discurso, tencionando parecer simpático aos fiéis.
Logo depois, o Apóstolo Agenor Duque pega a palavra e de forma bastante clara incita os fiéis a não apenas votar, mas também a conquistar novos vinte votos cada para a reeleição da Vereadora Sandra Tadeu, tida pelo apóstolo como uma pessoa idônea, além de serva de Deus. Fala em fechar uma aliança com a vereadora, o que implicitamente sugere uma troca de favores (especialmente em se tratando do universo neopentecostal, onde é lícito fazer negócios ou “alianças” até mesmo com o Sagrado). Assim, Duque a ajuda, com a força dos seus fiéis, na reeleição, e Sandra Tadeu o ajuda quando eventualmente solicitada.
E enfim chega o candidato a prefeito José Serra, propondo com Duque uma “parceria” (termo menos espiritual que “aliança”, porém contendo o mesmo significado) na manutenção da instituição social mantida pela IAPTD. E o pedido indefectível: “que vocês orem por mim”. Ou seja, “direcionem a mim os seus votos”.
aad5Ou você vai fazer como Judas, ou vai ser com a gente. Ou você vai entregar a gente na mão deles. Em nome de Jesus, eu peço para você uma coisa: me dê o teu voto. Quando você for votar no [Marcelo] Crivella, você está votando dez, você está votando na gente. Você pede a nossa ajuda, eu já te ajudei muito. Eu vou te ajudar agora, mas eu te peço ajuda no domingo. Eles estão certos de que o Crivella não vai para o segundo turno, mas a gente vai dar uma resposta domingo agora. Mas não faça como uma obreira nossa, que aqui dentro da igreja deu santinho de outro candidato. Sabe por quê? Porque alguma coisa ela tá ganhando. Ela tá atrás de trinta moedas de prata. Quem aqui eu posso contar? Mas é só o seu? É você e mais quantos? Já conseguiu quantos? O bispozão falou comigo antes de ir para o Grajaú. Falou assim: “Daniel, fala pra esse povo do desmanche, que eu conto com eles domingo agora. Vem cá, me dá um abraço. Eu sou o candidato, é isso. Olhe pra mim, a obra de Deus vai ganhar. E no ano que vem eu vou estar no programa do desmanche!” (Pastor da IURD – YOUTUBE)
Na IURD não costuma haver rodeios. Assim, o pastor Daniel, durante um culto, pede claramente que os ouvintes votem no Bispo Marcelo Crivella, sobrinho do Bispo Edir Macedo. Note que isso é possível, pois os cultos não são todos filmados. No discurso em questão, a gravação ficou a cargo de um componente da plateia.
O pastor começa exigindo um posicionamento do fiel: ou cumpre a instrução, ou se compare ao personagem bíblico Judas (aquele que traiu a Jesus). E em nome de Jesus é feito o pedido: o voto para Crivella, que é comparado a um voto para a própria instituição eclesiástica, e por isso a traição se configuraria mais grave.
Para justificar o pedido, o pastor apela para o toma-lá-dá-cá: ele já ajudou os ouvintes (talvez orando, dando conselhos) e é a hora da plateia retribuir. Nas igrejas neopentecostais, tudo tem um preço, ao ponto de uma obreira que estava dando “santinho” de outro candidato ser considerada vendida aos opositores da IURD, não se levando em consideração que o motivo poderia ser simplesmente ideológico.
O pastor não se contenta em direcionar os votos dos fiéis. Em certo momento, pergunta para os ouvintes com quem ele pode contar. Subentende-se que os fiéis se levantam ou levantam as mãos, expondo assim aos demais seu comprometimento com o voto no Crivella. É uma forma de intimidação, pois ao ver muitos se levantarem, os demais podem se sentir temerosos e assim, também seguir a multidão. E como se trata de um ambiente sagrado, torna-se difícil para o fiel desfazer posteriormente seu voto.
A última cartada é a menção ao “bispozão”, possivelmente o Bispo Edir Macedo, que espera o voto dos fiéis a seu sobrinho como se fosse a si mesmo. E quem contrariaria a palavra de um “representante de Deus”?
aad6Nós tínhamos dois candidatos: Lula e Collor. O Lula já tinha declarado que ele, eleito presidente, mandaria fechar a Igreja Universal. Ele declarou isso. Ele fez essa declaração: iria fechar a Igreja Universal. Eu não vou ser auto demolidor de mim mesmo. E houve promessas da parte do Collor de ajudar a igreja. O Collor disse eu iria ajudar a igreja. Eu estive com ele nesse momento. Eu tenho um retrato ao lado dele, inclusive. Hoje eu escondo esse retrato. Mas ele iria ajudar a igreja, dar apoio, etc. […] Nós estávamos comprando a TV Record. Repare se por acaso você compra, depende da autorização do presidente. A concessão de uma rede de televisão, de uma emissora, depende da aprovação do presidente. Se você tem um presidente dizendo para você “vou te apoiar”, você apoia o cara. Por quê? É uma questão de praticidade. Eu não vou apoiar meu inimigo. Vou apoiar aquele que se diz meu amigo. […] Roberto Marinho se insurgiu, os Mesquitas, do Estadão, se insurgiram, o Frias começou, depois esfriou, Brizola e outras coisas mais, todos contra o Bispo Macedo. Então o que aconteceu com o Collor? Ele se retraiu. E mandou um recado para o Bispo Macedo que não iria atendê-lo porque não queria se queimar junto aos meios de comunicação de massa. E o que aconteceu com ele? Se queimou. Ele foi contra um ungido de Deus[…] [próximo ao impeachment] O bispo veio dos EUA orar com ele na casa da Dinda. Passou três horas com ele. Orou e ele chorava copiosamente. Chorou baldes de lágrimas. Mas ali não adiantava mais. (DE VELASCO apud MARIANO, 2014, p. 93)
O Pastor Paulo de Velasco revelou, neste discurso, a estratégia da IURD e de muitas igrejas neopentecostais. Embora, para os fiéis, a escolha de um candidato a cargo político ocorra por intervenção divina, na realidade a escolha passa simplesmente pelo jogo de interesses.
Em 1989, conforme o discurso de De Velasco, o candidato Lula foi preterido por ter declarado, segundo o pastor, que fecharia a IURD, enquanto que Collor ofereceu apoio. Anos depois, vê-se a mesma IURD se aliando ao Lula e seu Partido dos Trabalhadores[5], demonstrando que as circunstâncias falam mais alto do que a espiritualidade.
De Velasco expõe, de forma bastante clara, como funciona o jogo político-religioso. Porém, embora toda a negociação se dê no âmbito terreno, as consequências são relegadas ao âmbito celestial. Assim, o então Presidente Fernando Collor teria amargado o impeachment não por sua atuação durante o mandato, mas por ter se voltado contra um “ungido do Senhor”, no caso o Bispo Edir Macedo.
Nas igrejas neopentecostais, os fins justificam os meios.
aad7Diante de três centenas de pastores reunidos no Hotel Caesar Park, São Paulo, dia 20 de agosto de 1994, Sônia Hernandes, com frases do tipo “a Palavra de Deus nos fala que quando um servo de Deus assume o comando, todo o povo é abençoado”, conclamou os presentes a apoiar a candidatura de Quércia à Presidência da República, mesmo que tivessem objeções quanto a sua idoneidade e competência, porque sua vice, Íris Resende, era evangélica de primeira hora. (MARIANO, 2014, p. 144)
Numa reunião de pastores, a Bispa Sônia Hernandes (Renascer em Cristo) tenta influenciar os presentes a votar (e também suas respectivas congregações) no candidato à presidência Quércia. Embora não sendo uma unanimidade em termos de idoneidade e competência, mesmo assim o voto em Quércia é recomendado, afinal sua vice, Íris Resende, era evangélica.
Para convencer os ouvintes, Hernandes espiritualiza o discurso. Embora vice, mas na chapa havia alguém da mesma profissão de fé, através de quem Deus agiria em prol da nação.
O discurso proferido deu resultado, embora Quércia não tenha sido eleito. Segundo Mariano (2014, p. 144), o candidato obteve 5,1% (cinco vírgula um por cento) dos votos na população em geral, enquanto que, entre os evangélicos, alcançou 8,3% (oito vírgula três por cento).
aad8Quero dar uma palavra, mais um testemunho, testemunho por ele autorizado em relação ao Deputado Eduardo Cunha. É absolutamente verdadeiro tudo aquilo que ele disse, e por isso que eu disse que suas palavras são críveis, são acreditáveis. E eu tenho o Eduardo Cunha como um auxílio extraordinário na Câmara Federal. Ninguém desconhece, como o Bispo Manuel Ferreira salientou, as suas qualidades. Se você quiser dar uma tarefa das mais complicadas para o Deputado Eduardo Cunha, ele as simplifica, porque ele trabalha muito. Porque certa e seguramente também, quando ele se manifesta, também está presente a sua fé, e a fé é que mobiliza as pessoas. Então, as tarefas difíceis eu entrego, entregava como entrego à fé do Deputado Eduardo Cunha, de modo que eu fico muito feliz em saber que toda a comunidade aqui acaba por apoiá-lo. E sabe-se que levará ao Congresso Nacional uma figura que adequadamente representa toda esta fé que emana desta igreja e desta assembleia. (Vice-Presidente da República Michel Temer – YOUTUBE)
O Vice-Presidente da República Michel Temer estava em meio ao processo deimpeachment da Presidente Dilma Rousseff[6] quando proferiu este discurso, dirigido a lideranças evangélicas capitaneadas pelo Bispo Manuel Ferreira, da Assembleia de Deus Ministério Madureira. A exemplo da ADVEC, essa Assembleia de Deus deixou suas origens pentecostais e enveredou pelo neopentecostalismo, adotando doutrinas como a da Teologia da Prosperidade. Entre os membros ilustres do Ministério Madureira está Deputado Eduardo Cunha[7], Presidente da Câmara dos Deputados e envolvido em uma série de denúncias de corrupção[8].
O locutor precisa adequar seu discurso à plateia. Assim, Temer se utiliza de termos familiares aos evangélicos para se dirigir aos líderes, como “testemunho” e “fé”.
O testemunho que Michel Temer quer trazer é o da capacidade de Eduardo Cunha. Segundo o político, Cunha é alguém bastante trabalhador e que consegue resolver os problemas que lhe são apresentados. Porém, como se dirige a religiosos, Temer lembra que sua capacidade advém do Alto, do divino, da fé que Eduardo Cunha possui. E como essa fé é a causa dos sucessos do deputado, é também a prova de que suas ações são ratificadas pelo próprio Deus, sendo assim indiscutíveis.
O mais intrigante é que Michel Temer coloca com todas as letras que os líderes evangélicos ali presentes estão apoiando Eduardo Cunha, apesar de todas as denúncias que recaem sobre sua pessoa. Sobre isso, nada é citado. Afinal, a suposta fé de Cunha o redime de todos os possíveis pecados terrenos, inclusive as acusações de corrupção e de existência de contas não declaradas no exterior com dinheiro de propina.
É sabido que os neopentecostais querem sempre estar próximos ao Governo, e para isso se empenham tanto na eleição de políticos que lhes sejam favoráveis. Assim, quando Dilma Rousseff estava à frente das pesquisas pré-eleitorais, muitos grupos neopentecostais (incluindo a igreja Assembleia de Deus Ministério Madureira) lhe estenderam apoio[9]. Porém, quando a Presidente está sendo deposta, esses mesmos líderes deixam o barco e se ancoram nos que lhe substituirão no poder.
Além do Bispo Manuel Ferreira, o Pastor Silas Malafaia também “orou” por Michel Temer[10]. E certamente, seus fiéis seguidores também “orarão” por quem quer que lhes seja indicado, afinal é a vontade de Deus (pelo menos, por enquanto).
O final do discurso de Michel Temer é intrigante, pois bastante ambíguo: “[…] de modo que eu fico muito feliz em saber que toda a comunidade aqui acaba por apoiá-lo. E sabe-se que levará ao Congresso Nacional uma figura que adequadamente representa toda esta fé que emana desta igreja e desta assembleia”. Cunha representaria a fé dos neopentecostais no que tange às qualidades que lhe foram inferidas no discurso ou aos defeitos que foram omitidos? As duas hipóteses são consideráveis, porém acredita-se que Temer, nesse caso, usou de grande sarcasmo e ironia para cutucar os presentes.

[1][1] CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. São Paulo: Editora Contexto, 2008, p. 63.
[2] PORTAL G1. Marcha para Jesus reúne multidão no centro do Rio. Disponível em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/05/marcha-para-jesus-reune-multidao-no-centro-do-rio.html>. Acesso em: 24 Abr.2016.
[3] O GLOBO. Para enfrentar denúncia, Cunha se ampara em grupo construído entre evangélicos. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/brasil/para-enfrentar-denuncia-cunha-se-ampara-em-grupo-construido-entre-evangelicos-17276421>. Acesso em: 24 Abr.2016.
[4] Folha de São Paulo. Janot diz ao STF que Cunha é agressivo e pede abertura de ação. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/02/1740043-janot-diz-ao-stf-que-cunha-e-agressivo-e-pede-abertura-de-acao.shtml>. Acesso em: 24 Abr.2016.
[5] VEJA. Dilma recebe o apoio do “bispo” Macedo, que é favorável ao aborto. Disponível em: < http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/dilma-recebe-o-apoio-do-bispo-macedo-que-e-favoravel-ao-aborto/>. Acesso em: 24 Abr. 2016.
[6] G1 Política. Comissão do Senado ouve autores do pedido de impeachment de Dilma. Disponível em: < http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/04/comissao-do-senado-ouve-autores-do-pedido-de-impeachment-de-dilma.html>. Acesso em: 28 Abr.2016.
[7] Estadão. Cunha usou Assembleia de Deus para receber propina, diz Janot. Disponível em: < http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/janot-acusa-cunha-de-usar-assembleia-de-deus-para-receber-propina/>. Acesso em: 28 Abr.2016.
[8] Carta Capital. Réu por corrupção, Cunha vê pressão aumentar. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/reu-por-corrupcao-cunha-ve-pressao-aumentar>. Acesso em: 28 Abr.2016.
[9] Folha de São Paulo. Painel. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/183825-painel.shtml>. Acesso em: 28 Abr.2016.
[10] O Povo Online. Temer recebe bênção de Silas Malafaia. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/politica/2016/04/27/noticiaspoliticas,3608365/temer-recebe-bencao-de-silas-malafaia.shtml>. Acesso em: 28 Abr.2016.


Vera Siqueira: 
https://estrangeira.wordpress.com

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O discurso da fé: análise do discurso de lideranças de igrejas neopentecostais – Parte 1


O tema do meu trabalho ( Vera Siqueira)  de conclusão do curso de Pós-Graduação em Revisão de Texto foi a análise do discurso religioso neopentecostal. Através da transcrição de discursos de lideranças evangélicas, foi feita a análise buscando extrair o que estava subentendido, com o fim de trazer esclarecimento sobre o que é dito para influenciar multidões.
Uma vez aprovado, transcrevo partes do trabalho para apreciação geral. Neste artigo, especificamente o capítulo 2. Boa leitura!

2 – Análise do discurso religioso de lideranças neopentecostais

2.1 – Definição de análise de discurso
O estudo da linguagem se divide em diferentes áreas, entre as quais a análise do discurso. Gregolin (1995)[1] observa a análise do discurso através de vários conceitos. Do ponto de vista histórico, temos desde os estudos da Retórica grega até a atual tentativa de linha francesa de construir uma “análise automática do discurso” através da informática. Entre esses dois extremos viu-se uma mudança do foco da Linguística da “frase” para a Linguística do “texto”, provocando transformações na então aceita ideia de que a “fala” é individual e não passível de análise científica. Ao assumir o texto como objeto de análise (e não apenas a frase), o estudo do “texto” ganhou destaque nos estudos linguísticos.
Charaudeau (2008, p.16-17) verifica duas atitudes em relação à linguagem. Na primeira, observa-se o ato da linguagem esgotando sua significação em si mesmo. Assim, se alguém diz: “abra a porta”, buscou significar nada além de “abra a porta”. Já na segunda atitude, admite-se que o ato da linguagem não esgota sua significação em si mesmo, significando algo além do seu próprio significado, contextualizando com a realidade social e histórica. Assim, nesse caso é necessária a interrogação sobre as diferentes leituras possíveis, pois o objeto de estudo passa a ser constituído por um explícito (o que é claramente manifestado) e um implícito (os sentidos múltiplos dependentes das circunstâncias da comunicação). E significação em Linguística pressupõe a Semântica.
Semântica, segundo Fiorin (2008, p. 13-16) é não simplesmente o “estudo do significado”. Ela necessita ser:
  1. Gerativa, ou seja, deve estabelecer modelos que apreendam os níveis de invariância crescente do sentido de tal forma que se perceba que diferentes elementos do nível de superfície podem significar a mesma coisa num nível mais profundo (por exemplo, a aprovação no vestibular e a Arca da Aliança, no filme Os caçadores da arca perdida, significam a mesma coisa num nível mais profundo, poder fazer: no primeiro caso, poder fazer um curso superior; no segundo, poder vencer os inimigos);
  2. Sintagmática, isto é, deve explicar não as unidades lexicais que entram na feitura das frases, mas a produção e a interpretação do discurso;
  3. Geral, ou seja, deve ter como postulado a unicidade do sentido, que pode ser manifestado por diferentes planos de expressão (por um de cada vez ou por vários deles ao mesmo tempo: por exemplo, o conteúdo /negação/ pode ser manifestado por um plano de expressão verbal “não” ou por um gesto como “repetidos movimentos horizontais da cabeça”; o conteúdo de uma telenovela é manifestado, ao mesmo tempo, por um plano de expressão verbal, por um visual, etc.). (FIORIN, 2008, p. 16)
Maingueneau (1989, p. 31-32) ressalta a importância da Pragmática na análise do discurso: “[…] a pragmática tende a enfatizar que ‘a tomada da palavra’ constitui um ato virtualmente violento que coloca outrem diante de um fato realizado e exige que este o reconheça como tal”. O autor esclarece que, num discurso, o locutor se concede um certo lugar, atribuindo um lugar complementar ao outro. Esse lugar complementar deve ser aceito pelo outro, que deve também reconhecer a autoridade do locutor para estar no lugar onde se colocou. Assim, a concepção pragmática se opõe à ideia da língua como simples instrumento de transmissão de informações.
Em relação à análise do discurso religioso, enquanto Orlandi (1987, p. 85) o insere em sua concepção de “discurso da autoridade” por seu caráter autoritário, ou seja, onde o locutor se sobrepõe ao outro através do discurso, Oliveira (1998, p. 22) enxerga que tal autoridade se dilui na medida em que os ouvintes procuram os locutores religiosos espontaneamente. Assim, segundo a autora, pode-se acatar ou não as determinações dos líderes religiosos, havendo muitas vezes um alheamento voluntário por parte do ouvinte por desconhecer o assunto (no caso deste estudo, os ensinos bíblicos).
Para Orlandi,
Partindo, então, da caracterização do discurso religioso como aquele que fala a voz de Deus, começaria por dizer que, no discurso religioso, há um desnivelamento fundamental na relação entre locutor e ouvinte: o locutor é do plano espiritual (o Sujeito, Deus) e o ouvinte é do plano temporal (os sujeitos, os homens). Isto é, locutor e ouvinte pertencem a duas ordens de mundo totalmente diferentes e afetadas por um valor hierárquico, por uma desigualdade em sua relação: o mundo espiritual domina o temporal. O locutor é Deus, logo, de acordo com a crença, imortal, eterno, infalível, infinito e todo-poderoso; os ouvintes são humanos, logo mortais, efêmeros, falíveis, finitos, dotados de poder relativo. Na desigualdade, Deus domina os homens. (ORLANDI, 1987, p. 243).

2.2 – Discurso para arrecadação de ofertas e dízimos
ad1Como já explicitado no capítulo anterior, uma das principais características das igrejas neopentecostais é a ênfase na prosperidade, conseguida através da doação de dízimos e ofertas por parte dos fiéis. Assim, será feita a análise do discurso utilizado para convencer os fiéis a fazer doações financeiras para essas igrejas.
Verdadeiramente, um pai rico só poderá ter filhos ricos. Se você, […] não está vivendo como um abundante filho de Deus é porque ou está afastado das origens da sua verdadeira família, ou não quer se apossar da herança; entretanto, se você deseja viver a verdadeira vida que Deus tem preparado, comece hoje, agora mesmo, a cobrar aquilo que Ele tem prometido. (MACEDO apud GONÇALVES, 2013, p. 92)
Nesse discurso, o Bispo Edir Macedo (IURD) afirma aos fiéis que quem segue a Deus é considerado seu filho, e que como filhos de um pai rico (pois divino, todo-poderoso, imortal, qualidades essas intrínsecas a uma divindade) os fiéis devem ser também ricos. Tal riqueza se dá, segundo Macedo, através da herança paterna e pela posse desse direito. O fiel deve se apossar da riqueza oriunda de Deus, cobrando-o sobre as promessas bíblicas que versam sobre prosperidade. Porém, ao cobrar uma atitude de Deus e exigir uma bênção (no caso, prosperidade financeira), o fiel se coloca numa atitude contrária  de submissão e contemplação perante a divindade, passando a ter autoridade sobre Deus ao ponto de lhe dar ordens e exigir cumprimento de promessas constantes na Bíblia, feitas em outro contexto histórico e muitas vezes dirigidas a personagens e nações específicas, como por exemplo o povo judeu.
Você tem que chegar e se impor. Ó, pessoal, você vai ajudar agora na obra de Deus. Se você quiser ajudar, bem; se você não quiser ajudar, Deus vai me dar outra pessoa pra ajudar. Amém. Entendeu como é? Se quiser ajudar, bem; se não quiser, que se dane! É dá ou desce! Entendeu como é que é? Nunca pode ter vergonha ou timidez. Peça, peça, peça. Se tem um que não dê, vai ter um montão que vai dar. (BLEDSOE, 2012, p. 68)
Esse discurso foi proferido pelo Bispo Edir Macedo e dirigido a um grupo de pastores da IURD, e denota o modus operandi dos pregadores de igrejas neopentecostais no que tange aos pedidos de dízimos e ofertas.
O pastor precisa chegar e se impor. Precisa, pela postura, atitudes e tonalidade de voz se colocar num patamar mais alto que seus ouvintes, demonstrando autoridade sobre a plateia. E precisa ser imperativo, direto: “você vai ajudar agora na obra de Deus”.
Uma das estratégias ensinadas por Macedo a seus pupilos é a de desmerecer os fiéis. Ninguém é muito importante, pois nenhuma oferta individual é importante: “se você quiser ajudar, bem; se você não quiser ajudar, Deus vai me dar outra pessoa pra ajudar”. O importante é o conjunto de ofertas. Assim, o pastor deve não se fixar em convencer alguma pessoa individualmente, mas a maior parte da plateia. Isso também significa que, se alguém não quiser ofertar e assim receber as bênçãos prometidas pelos pastores, Deus levantará outros que doarão e serão por isso abençoados.
“Se não quiser [dar a oferta], que se dane! É dá ou desce!” – Na estratégia das igrejas neopentecostais, o fiel tem duas opções: ou dá a oferta solicitada e se coloca em posição de receber bênçãos, ou não dá a oferta e se torna apto a toda sorte de tribulações. Utilizando-se da chula e machista metáfora popular, ou dá e permanece com a carona para casa, ou desce do carro e percorre o resto do caminho a pé, sob perigos.
É também parte da estratégia a grande ênfase na pregação de ofertas e dízimos. Os pastores das igrejas neopentecostais precisam pedir, pedir, pedir sem vergonha ou timidez. A repetição é uma forma de influenciar as pessoas para que ajam conforme as instruções do locutor.
Os dízimos e as ofertas são tão sagrados e tão santos quanto a Palavra de Deus. Os dízimos significam fidelidade, e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor. Não se pode dissociar os dízimos e as ofertas, o amor do servo para com o Senhor Jesus, uma vez que eles significam, na verdade, o sangue daqueles que foram salvos em favor daqueles que precisam ser salvos. (BLEDSOE, 2012, p. 151)
Aqui o Bispo Edir Macedo mistifica o ato de doação de dízimos e ofertas. Não apenas mistifica, mas compara a oferta aos escritos bíblicos, considerados pelos fiéis como a Palavra de Deus e fundamentais para a formação da doutrina cristã.
Nesse discurso, Macedo faz algumas comparações. O dízimo e as ofertas são comparados, em grau de importância, à Bíblia e ao amor do fiel a Jesus Cristo. Assim, quem ama a Deus precisa necessariamente demonstrar esse amor através da doação de recursos financeiros às igrejas neopentecostais. Esses recursos, segundo o discurso em estudo, são como um sacrifício de sangue, de morte, em prol da evangelização de novos crentes, que passariam a ter vida espiritual. Para muitos, especialmente os fiéis de menor renda, o ato de generosidade direcionado à igreja equivale, muitas vezes, a um grande sacrifício pessoal.
ad4Ei pastor, eu plantei. Se der deu, se não der não deu. Irmão! Eu chamo qualquer agricultor aqui, meu irmão, você está de conversa! O cara ara a terra, solta a semente e ele tem lá, ele sabe quanto tempo leva. Abacate: sete anos. E vai por aí afora. Essa fruta aqui é um ano. Onze meses e o cara tá lá vendo. Ele já tá vendo a colheita. Se planta laranja, a árvore tá desse tamanhinho, o cara já tá vendo a laranja toda que tá colhendo. Ele tá sempre visualizando, ele tem a expectativa. Agora, não pastor, e tem uns com cara de super santos: pastor, eu dou ofertas, pastor, simplesmente pelo ato de dar. Sim, trouxa. Ok, trouxa. Eu respeito você, trouxa. Eu dou ofertas porque, simplesmente sabe, porque eu amo a Deus e tá acabado. Tá bom, se você quer fazer isso faz, mas a Bíblia não manda você fazer isso. A Bíblia faz uma analogia da oferta com a semente para que você entenda que todo agricultor que planta deve colher! Você deve dar oferta na expectativa que você vai colher na sua vida! Em algum tempo futuro você vai colher! […] (Pastor Silas Malafaia – YOUTUBE)
Nesse discurso, o Pastor Silas Malafaia (ADVEC) se dirige enfática e agressivamente à sua plateia. A ênfase é ensinar como o crente pode prosperar, e para isso compara a liberação de bênçãos materiais a uma colheita. De forma didática, Malafaia leva o fiel a entender que não se deve ofertar ou dizimar sem esperar nada em troca. Para o pastor, isso é um grande erro.
Com uma linguagem bastante popular, Malafaia chama as pessoas que aparentam grande santidade (por fazer doações apenas por amor à obra de Deus) de “trouxas”. Para maior destaque, repete o termo algumas vezes, de forma a ridicularizar perante a plateia aqueles que ofertam sem seguir seus ensinos.
O objetivo desse discurso é obviamente aumentar a arrecadação financeira. Os que Malafaia chama de “super santos” já ofertam por convicção própria. Os demais precisam de um incentivo para melhor ofertar, e esse incentivo é a promessa vinda do “representante de Deus” de que, mais cedo ou mais tarde, a recompensa financeira chegará ao fiel. Afinal, o que o “representante” traz é a palavra vinda do próprio Deus, e por isso merece todo o crédito dos ouvintes.
ad5O faraó, mesmo sendo deus ou a divindade, ele teve a humildade […] de aceitar o que Deus colocou na boca do profeta José: separa vinte por cento e guarda, porque quando vier a escassez você vencerá. São onze horas e quinze minutos, e eu queria que você que está me acompanhando e quer vencer a crise – Deus me deu até um livro, eu escrevi esse livro em dez dias: Colhendo os frutos no deserto – esse livro não está à venda, eu vou presentear as pessoas que vão aceitar o propósito, mesmo que você seja da Batista, da Mundial, da Presbiteriana, da Igreja Carismática, da Católica, que você seja da Universal, qualquer ministério. Se Deus falou com você, e lhe deu a direção, e crê, você vai separar a quinta parte. O que é a quinta parte? Pela última vez: é vinte por cento. Eu não poderia falar assim: […] dízimo de vinte por cento. Não existe essa conjecção, isso fere o Aurélio, isso fere a matemática porque dízimo vem de dez, então dízimo é dez por cento. Mas pra tentar iluminar a sua mente e fazer você, que não tem muito entendimento, entender, você vai separar vinte por cento esse mês de setembro. Eu estou profetizando que você vai colher os frutos no deserto. […] Se você recebe mil reais, quanto é o dízimo? Cem, que é dez por cento. Mas este mês você vai separar a quinta parte, que é vinte por cento. Ao invés de você separar cem, você vai separar duzentos reais. Que o Espírito de Deus lhe dê sabedoria, pra entender o que eu estou tentando explicar. A minha intenção é única: que em meio à crise, em meio à dificuldade você se sobressaia […]. (Apóstolo Agenor Duque – YOUTUBE)
O autointitulado[2] Apóstolo Agenor Duque, da IAPTD (pois há uma controvérsia sobre a aceitação do título de apóstolo nas igrejas evangélicas nos dias atuais)[3], assim como o Pastor Silas Malafaia, dirige-se aos seus ouvintes de forma bastante popular, numa tentativa de se mostrar próximo. Essa proximidade traz também uma certa intimidade e confiança, imprescindíveis para o maior sucesso dos discursos que profere.
O discurso em estudo foi realizado durante um programa de rádio (embora também gravado em vídeo). Pela falta da percepção visual, a informação, nesse caso, precisa ser “simples e caracterizada pela repetição de conceitos de modo a que o ouvinte possa assimilar a ideia que se pretende comunicar. […] isto para que o ouvinte não se sinta forçado a esforços superiores à sua compreensão normal”, segundo Amaral (sem data)[4].
O Apóstolo Agenor Duque inicia seu discurso com uma parábola. Conta uma história bíblica contida no Antigo Testamento (livro de Gênesis, capítulo 41)[5], e a compara com a atual realidade vivida pelos fiéis. Assim como na história do faraó e de José do Egito, atualmente os fiéis passam necessidades por conta da crise econômica e política que afeta o Brasil[6]. E, segundo Duque, a solução da crise está em obedecer às instruções divinas recebidas pelo autointitulado apóstolo.
Objetivando influenciar os ouvintes, o Apóstolo Agenor Duque se coloca numa posição duplamente superior: primeiro, por ser o “representante de Deus”, sendo sua palavra um mandamento da própria divindade; e em segundo lugar, colocando-se como alguém altamente capacitado para pronunciar tal discurso, diante de uma plateia de ignorantes.
Para melhor caracterizar seu grau de capacitação, Duque relata que é autor de um livro sobre o assunto (vencer a crise), cita o dicionário Aurélio e a ciência matemática e coloca o ouvinte numa posição claramente inferior em termos de conhecimento bíblico: “pra tentar iluminar a sua mente e fazer você, que não tem muito entendimento, entender”. Ao citar a passagem bíblica do início do discurso, Duque não a referencia (Gênesis 41), pois não importa que o fiel vá comprovar a informação, apenas que atenda obedientemente à instrução de tão culto homem de Deus. Assim, perpetua-se a condição de ignorância dos fiéis e a posição supostamente superior, em termos de conhecimento bíblico, do apóstolo, demarcando claramente quem deve obedecer a quem.
De forma didática e impaciente (“pela última vez: é vinte por cento”), Duque explica ao ouvinte o que Deus lhe requer para tirá-lo da situação de crise. Mesmo que pertença a outra igreja, a oferta deve ser entregue na IAPTD. E precisa ser vinte por cento dos ganhos do fiel. Tão específicas instruções remetem a simpatias e rituais de magia, também justificadas como vontade de Deus (ou deuses), segundo as religiões que as praticam.
ad6Quem inventou essa história de que, para agradar a Deus, as pessoas têm que ser tristes, pobres e mal vestidas? Não aceitam que a gente tenha ganho a BMW na rifa, toque rock, seja feliz. Não aceitam nossa liberdade de falar da Bíblia sem ser ET. A gente aceita todos como eles são. Você pode usar miniblusa, colocar 50 brincos na orelha, pintar o cabelo de azul, usar calça esburacada. Sem acusação. (BISPA SÔNIA HERNANDES apud MARIANO, 2014, p. 211)
A Bispa Sônia Hernandes (Renascer Em Cristo) apela para a vaidade dos seus ouvintes. Assim como sua igreja aceita pessoas de todas as tribos e gostos, essas pessoas precisam retribuir aceitando a forma como a Renascer prega sobre prosperidade financeira. E Hernandes justifica que o puritanismo não é imprescindível para se agradar a Deus, atendendo a uma premissa da Teologia da Prosperidade.

2.3 – Discurso de doutrina
Nesse subitem será feita a análise do discurso de igrejas neopentecostais sobre sua doutrina.
ad7É preciso a pessoa estar consciente de que foi o Espírito Santo quem dirigiu as pessoas a escreverem a Bíblia. Assim sendo, só através d’Ele é possível a sua interpretação. O estudante da Bíblia nunca deve depender somente dos seus conhecimentos teológicos para interpretar a Palavra de Deus. Muito pelo contrário, quanto mais ele se esvaziar de si mesmo e depender do Espírito Santo, mais compreensão terá. (MACEDO apud GONÇALVES, 2013, p. 84)
O Bispo Edir Macedo (IURD) traz um paradoxo aos fiéis: ao mesmo tempo em que o Espírito Santo dirigiu a escrita da Bíblia, esses escritos só podem ser interpretados pelo próprio Espírito Santo de Deus (embora haja traduções para diversas línguas, inclusive o português). O conhecimento teológico, para Macedo, tem pouco ou nenhum valor, pois o bispo acredita que tal conhecimento traz embutida a vaidade e a independência de Deus. A verdadeira dependência, segundo Macedo, está em deixar de lado os conhecimentos bíblicos adquiridos e obter diretamente de Deus a interpretação dos textos sagrados.
Ao se lembrar que o sacerdote é quem detém a representação de Deus, nesse discurso temos a instrução para que o ouvinte passe a depender do “representante de Deus” para a correta interpretação das Escrituras. Dessa forma, nas igrejas neopentecostais a palavra final sobre os escritos bíblicos sempre será a dada pelos líderes eclesiásticos, independente se o significado encontrado está de acordo ou não com os contextos. O estudo da palavra de Deus será desprezado por denotar independência das revelações divinas.
Muitos cristãos vivem pedindo oração porque estão sendo perseguidos pelo diabo. É de estarrecer, porque a realidade deveria ser outra. Os cristãos é que devem perseguir os demônios. Nossa luta é muito mais de combate do que de defesa; devemos nos armar de toda a armadura de Deus para libertar os oprimidos. A igreja deve ser triunfante e estar sempre na ofensiva. (MACEDO apud MARIANO, 2014, p. 122)
Uma das premissas das igrejas neopentecostais é a ênfase na Batalha Espiritual. Para o Bispo Edir Macedo, o cristão precisa reconhecer sua autoridade diante dos demônios e expulsá-los, não dependendo de orações de outras pessoas. Isso traz embutida a diminuição do trabalho pastoral, caso os fiéis deixem de demandar cuidados espirituais. Além disso, a imagem de uma igreja sempre triunfante é perfeita para os ideais da Teologia da Prosperidade, pois significa a vitória em todas as áreas, inclusive e especialmente a financeira (mote da propaganda das igrejas neopentecostais).
ad8Pese o Senhor hoje a minha vida e a sua. Que Deus pese-me entre eu e você! Você tem blasfemado contra um ungido de Deus! Eu não sou um cheirador de cocaína, eu não sou um alcoólatra, eu sou um homem de Deus! Você diz que verá minha queda, então se eu sou profeta de Baal é três dias! Ou Deus me abate e abate a minha casa, ou a ira do Senhor virá contra ti! [inteligível] Se eu sou um falso profeta você saberá. Ou Deus me recolhe, ou a ira do Senhor virá sobre ti. Ou eu sou esse falso profeta que você fala. Diz o Senhor: você está amaldiçoado agora! (Apóstolo Agenor Duque –  YOUTUBE)
O autointitulado Apóstolo Agenor Duque (IAPTD) desferiu esse discurso olhando diretamente para a câmera e apontando para um inimigo anônimo, que no contexto pode ser qualquer pessoa que lhe faça uma crítica.
Logo no início, Duque aciona a Deus para que julgue entre ele e a pessoa a qual se dirige. Em sua defesa, Duque alega ser um ungido de Deus e um não marginalizado. Como ungido e homem de Deus, o apóstolo se considera acima dos demais. Afinal, tem uma conexão direta com Deus, para quem apela no sentido de dar a sentença final: ou o apóstolo morre, ou a ira do Senhor recairá sobre a pessoa a quem se dirige.
No final, Deus dá o veredicto: “diz o Senhor: você está amaldiçoado agora!”. Tal discurso objetiva levar o ouvinte a um abalo psicológico, caso julgue que Deus o está mesmo amaldiçoando. Tal abalo o levará a crer que qualquer contrariedade em sua vida possa advir de tal maldição[7].
ad9Quem é que toca num ungido do Senhor e fica impune? Ungido do Senhor é problema do Senhor. Ungido do Senhor não é problema teu. Teu pastor é ladrão? Teu pastor é pilantra? Você não está gostando? Sai de lá e vai para outra igreja. Não se mete nisso não porque não é da tua conta não. Cai fora! Vai embora! Aqui, tchau, Deus abençoe o senhor, pastor, quero aqui a minha carta, o senhor pode me dar uma carta de apresentação, que eu vou para outra igreja. E se não der também, como diz Jabes, vai embora. Só não arruma problema. É isso aí, ele tá correto! Só não arruma problema. Não toque num ungido de Deus. Rapaz, aprenda isso! Eu já vi gente morrer por causa disso, meu irmão! Meu irmão, já vi gente morrer, estou falando aqui, eu já vi gente morrer. Meu irmão, isso é coisa muito séria, meu irmão. Meu irmão, não toma atitude contra pastor, não entra nessa furada não, vai. Se ele vir contra mim, ele vai perecer. Se ele vir contra mim, Deus vai tirar a vida dele. (Pastor Silas Malafaia – YOUTUBE)
Nesse discurso, o Pastor Silas Malafaia (ADVEC) discorre sobre a visão do ungido do Senhor seguida pelas igrejas neopentecostais.
Para Malafaia, não cabe a ninguém julgar um “ungido do Senhor”, um representante de Deus na terra, um líder religioso. Pode-se julgar trabalhadores, empresários, políticos, até mesmo juízes, porém nunca, em hipótese alguma, um “ungido do Senhor”. A paga para quem incorre nesse erro, segundo o pastor, é a pena de morte advinda do próprio Deus.
Para aproximar o discurso dos fiéis, Malafaia recorre a repetições e a histórias que diz conhecer. No final, o pastor se coloca com um dos ungidos a não serem tocados: “Se ele vir contra mim, ele vai perecer. Se ele vir contra mim, Deus vai tirar a vida dele”.
Essa é uma versão indireta do discurso estudado anteriormente. Enquanto Agenor Duque lança sua maldição diretamente para o ouvinte, Malafaia o faz de forma indireta, mais cuidadosa, menos agressiva, porém bastante enfática.
A imposição do medo sobre os fiéis (para que sigam cegamente seus líderes eclesiásticos) é uma das estratégias das igrejas neopentecostais.
ad10[…] E aí que uma mulher lá, ela falou assim: essas igrejas da porta larga, ah! Igreja séria, ah! é aquela que prega somente a salvação, é a igreja verdadeira. Essas igrejas da porta larga, papagaiada, conversa fiada, só fala bobagem, bênção, vitória, milagres. A igreja séria de Deus é aquela que prega a salvação. E como eu sou sanguíneo, fui ouvindo uma vez, duas vezes, aí gritei lá no meio do Poupatempo, parecia um louco: Mentira! Mentira! Heresia! Uma vez, mas paguei de louco mesmo, tipo louco, aqueles fanáticos da Praça da Sé, louco, fiz igualzinho. (Apóstolo Agenor Duque – YOUTUBE)
Esse discurso do autointitulado Apóstolo Agenor Duque também foi transmitido por rádio e gravado em vídeo. Quando da fala da mulher, Duque modifica sua voz para um tom mais grave e com sotaque nordestino, objetivando ridicularizar a fala de sua oponente diante dos ouvintes. Assim, mais uma vez se coloca como alguém superior aos demais não apenas por sua unção, mas também por seu suposto conhecimento bíblico e agora por sua origem paulistana[8].
Impressiona também a reação do apóstolo diante de sua oponente. Enquanto a mulher, segundo a imitação do apóstolo, falava de forma lenta, sua reação foi enérgica e agressiva, acusando-a de mentirosa em tom alto e na frente de todos da repartição pública, beirando um ataque de loucura.
Duque não revela como tudo terminou, mas fica subentendido que, por ser homem, de grande porte físico e um suposto ungido de Deus, tenha conseguido anular a mulher, que não deve ter esboçado nenhuma outra reação.
Como de costume, utiliza-se de linguagem bastante popular. E traz um paradoxo: a igreja séria de Deus, para o apóstolo, não é a que prega a salvação, mas a que prega bênção, vitória e milagres. Porém, tais manifestações existem para fortalecer a fé e levar o público à conversão a Cristo, obtendo, segundo a fé cristã, a salvação de suas almas[9].
A explicação de tal paradoxo é que o objetivo das igrejas neopentecostais, através das manifestações de milagres, é a de aumentar o público e consequentemente a arrecadação de dízimos e ofertas. A salvação, essa é deixada para o outro plano.
A forma como foi expresso o discurso dá a impressão de que o Apóstolo Agenor Duque se orgulha do que ocorreu. Afinal, de forma subentendida conseguiu calar uma adversária.

[1] GREGOLIN, Maria do Rosario Valencise. A análise do discurso: conceitos e aplicações. Disponível em: <http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/3967/3642>. Acesso em: 16 Abr.2016.
[2] Revista Época. Apóstolo emergente das igrejas neopentecostais promete apagar a memória dos fiéis. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/apostolo-emergente-das-igrejas-neopentecostais-promete-apagar-memoria-dos-fieis.html>. Acesso em: 21 Abr. 2016.
[3] LOPES. Augustus Nicodemus. Apóstolos: a verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014.
[4] AMARAL, Catarina. Características da rádio. Disponível em: <http://www.ipv.pt/forumedia/4/16.htm>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[5] Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Editora Paulus, 2006.
[6] Estadão. Entrevista: Teresa Ter-Minassian. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-nao-sai-da-crise-economica-se-nao-resolver-a-crise-politica,10000023324>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[7] Hype Science. Use psicologia para fazer suas maldições funcionarem. Disponível em: < http://hypescience.com/use-psicologia-para-fazer-suas-maldicoes-funcionarem/>. Acesso em: 21 Abr.2016.
[8] Revista Época. Apóstolo emergente das igrejas neopentecostais promete apagar a memória dos fiéis. Disponível em: <http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/apostolo-emergente-das-igrejas-neopentecostais-promete-apagar-memoria-dos-fieis.html>. Acesso em: 21 Abr. 2016.
[9] PIPER, John. Sinais e maravilhas: antes e agora. Disponível em: <http://www.desiringgod.org/articles/signs-and-wonders-then-and-now?lang=pt>. Acesso em: 21 Abr. 2016.

Por: Vera Siqueira:
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